Adriana Victorino | 04 de novembro de 2024 - 18h16

Combate à corrupção precisa de medições claras, afirmam especialistas

Evento discute medição da corrupção e transparência, abordando os desafios e a importância de métricas precisas no combate à corrupção.

SEMINÁRIO
Jornalista Marcelo Godoy media debate entre o professor Humberto Falcão, a jornalista e gerente de projetos da Transparência Brasil, Marina Atoji e a professora da Unesp e conselheira do Inac, Rita de Cássia Biason, durante o 9º Seminário Caminhos Co

Medir a transparência e a corrupção no Brasil é um trabalho complicado, mas muito importante, apontam especialistas. Esse foi o tema central do 9º Seminário Caminhos Contra a Corrupção, organizado pelo Estadão e pelo Instituto Não Aceito Corrupção (Inac), que reuniu pesquisadores e profissionais para debater maneiras de avaliar a corrupção e entender o que está funcionando no combate a ela.

Para o cientista político Humberto Falcão, da Fundação Dom Cabral, o combate à corrupção envolve muitos fatores e exige uma combinação de dados bem planejada. "É um problema grande, com várias causas que se misturam. Precisamos de maneiras específicas para medir corrupção em cada região do Brasil", sugeriu. Ele acredita que o Brasil poderia até ter seu próprio índice para avaliar a percepção de corrupção.

A gerente de projetos da Transparência Brasil, Marina Atoji, explicou que um dos pontos centrais da transparência é saber claramente quem é responsável pelo quê. “Tudo começa quando sabemos quem faz o quê. Medir a transparência é um desafio, mas precisamos ter regras que exijam que as informações públicas sejam divulgadas de forma clara e regular”, afirmou. Segundo Marina, ranquear e comparar os níveis de transparência entre instituições e municípios ajuda a pressionar pela melhora, pois ninguém quer ficar mal na foto.

Marina também chamou atenção para a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que, segundo ela, é, em alguns casos, usada como desculpa para não divulgar informações importantes ao público. “Se é de interesse público, a transparência deve estar acima da privacidade”, defendeu.

Rita de Cassia Biason, professora da Unesp e conselheira do Inac, comparou o Brasil com outros países da América Latina em relação à transparência e democracia. Ela lembrou que o Brasil ainda enfrenta dificuldades, enquanto países como Chile e Uruguai têm mostrado melhores resultados. “Aqui, muitos ainda confundem o que é público com o que é privado, tratando o serviço público como se fosse uma extensão dos próprios interesses pessoais”, explicou.

Falcão também comentou que a corrupção não é só um problema ético, mas também prejudica as finanças do país, desviando recursos que poderiam ser usados em áreas importantes. “Quando olhamos para outros países, percebemos que ainda temos um longo caminho no combate à corrupção e na promoção da transparência”, disse ele.

O Seminário Caminhos Contra a Corrupção é um evento anual que se tornou um dos principais encontros sobre o tema no país. Nas duas edições anteriores, o evento reuniu cerca de 80 mil pessoas para discutir questões como integridade, transparência e responsabilidade no serviço público.